O Ipupiara, também chamado de homem-marinho, é uma espécie de monstro
marinho que fazia parte da
mitologia dos povos tupis que habitavam o litoral do
Brasil no século XVI. Segundo a crença popular, ele atacava as
pessoas e comia partes de seus corpos. Segundo relatos do Brasil
Colônia, um Ipupiara teria sido encontrado e morto na capitania de São Vicente, no ano de 1564. O historiador e
cronista português Pero de Magalhães Gandavo teria descrito a
criatura como tendo "quinze palmos de comprido e
semeado de cabelos pelo corpo, e no focinho tinha umas sedas mui grandes como
bigodes"Ipupiara" deriva do tupi antigo
Ypupîara, que significa "o que está dentro d'água" (y,
água, pupé, dentro e ygûara, morador).
Uma crônica de Pero
de Magalhães Gândavo, publicada em 1575, conta que um ipupiara aparecera em
1564 na praia de São Vicente (SP), a primeira vila brasileira, e aterrorizou a
escrava índia Irecê, que ia encontrar o amante na praia e viu a aparição do monstro
como um castigo. O ipupiara, aparentemente, já matara seu amante, Andirá. Fugiu
apavorada, mas no caminho encontrou o capitão Baltasar Ferreira que enfrentou o
monstro e o abateu a golpes de espada (era o representante em São Vicente do
capitão-mor Pedro Ferras Barreto, que residia em Santos). Segundo o cronista, o
monstro tinha “quinze palmos de comprido” (3,30 metros) e era “semeado de
cabelos pelo corpo e no focinho tinha umas sedas mui grandes como bigodes”.
Outro cronista
colonial, o jesuíta Fernão Cardim, dizia que tais criaturas tinham boa
estatura, mas eram muito repulsivas. Matavam as pessoas abraçando-as,
beijando-as e apertando-as até as sufocar. Esses monstros, também devoravam os
olhos humanos, narizes, ponta dos dedos dos pés e das mãos e as genitálias.
Existiam também na forma feminina, possuindo cabelos longos e eram muito
formosas. O Ipupiara era, segundo estes cronistas, um ser "bestial,
faminto, repugnante, de ferocidade primitiva e brutal".
Jean de Léry, em sua
obra Viagem À Terra do Brasil, conta algo semelhante, que ele ouviu diretamente
dos índios Tupinambás da Guanabara no século 16:
(...) Não quero
omitir a narração que ouvi de um deles de um episódio de pesca. Disse-me ele
que, estando certa vez com outros em uma de suas canoas de pau, por tempo calmo
em alto mar, surgiu um grande peixe que segurou a embarcação com as garras
procurando virá-la ou meter-se dentro dela. Vendo isso, continuou o selvagem,
decepei-lhe a mão com uma foice e a mão caiu dentro do barco e vimos que tinha
cinco dedos como a de um homem. E o monstro, excitado pela dor pôs a cabeça fora
d'água e a cabeça que era de forma humana, soltou um pequeno gemido (...).
É provável que o
ipupiara de Baltasar Ferreira fosse um leão-marinho, animal pouco conhecido e
assustador para os índios do litoral paulista, pois raramente aparece em tais
latitudes.
Mais tarde, esse ser
se confundiu com a boiúna ou cobra-grande das lendas amazônicas, uma sucuri
negra, gigantesca e voraz que também podia tomar forma de embarcação. Também
conhecida, a partir do século XVIII, como mãe-d'água, passou a ser também
imaginada como mulher.
É só no século XIX
que aparece o nome enganosamente indígena de uiara ou iara, romanticamente
imaginada como uma versão tropical e indígena das janas, nixes e loreleis do
folclore europeu, a arrastar os incautos para a morte nos igarapés com sua
beleza ou seu canto.
Fonte: Wikipedia
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